segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Vanessa Barbosa, o testemunho mais presente no nosso documentário


«Tudo começou com uma ida a um médico particular, devido a encontra-me com febres bastantes elevadas (40 graus), inicialmente este nada de concreto sabia dizer, por isso enviou-me naquela mesma noite ir ao hospital local (Hospital de Santo Tirso) para que pudesse ser observada com mais condições, no hospital apenas detectaram que era um problema de garganta, então recomendam-me voltar lá no dia seguinte, para ser novamente observada por um otórrino. A minha mãe assim o fez, no dia seguinte, lá estava eu no hospital, para ser consultada por aquele médico que ao que tudo indicava, me iria dar uma solução. Fui analisada e o médico detectou que as minhas amígdalas estavam completamente negras, e por isso tinha que ser operada, mandou-me embora para tratar dos papéis para a operação, quando por sinal, fui a casa de banho (já fora do hospital), e urinei sangue, a minha mãe levou-me de imediato para o hospital, e tudo se agravou aí...
Depois de fazer vários exames, souberam logo o que era, leucemia, dia 20 de Outubro de 1998, vai ficar marcado para sempre na minha vida. Fui de imediato transferida para o hospital São João, onde confirmaram o diagnóstico, e acrescentaram que era um linfoma de burkitt ou de outro modo leucemia linfóide.
A minha casa naquele momento era outra, fiquei logo internada, iniciei a quimioterapia, uma quimioterapia de tal maneira forte e desgastante, que logo no primeiro ciclo me caiu cabelo, pestanas, unhas, a pele do interior da boca... fiquei completamente devastada. Só voltei a sair do hospital dois meses depois, depois de ter completado dois ciclos de quimioterapia e duas pls (onde dava imenso trabalho, visto que de todas a vezes que fazia, tinha que ir ao bloco operatório com anestesia geral, porque estava demasiado sensível para aguentar com mais sofrimento). Dia 23 de Dezembro de 1998, a primeira vez que fui para a minha “nova” casa, vi todas as minhas coisas, os meus brinquedos, mas fiquei completamente isolada, não queria ver nem falar com ninguém, não queria que tivessem pena de mim de alguma forma, passei um Natal animado com a minha família em casa, mas no dia 26 lá estava eu de volta aquele inferno, lá ia tudo começar de novo, o Natal correu muito bem mas fiquei de tal modo debilitada que no ano novo, já nem pude sair cá fora.
Depois de dois ciclos os médicos já poderiam fazer um “balanço”de tudo o que se estava a passar, tinha 70% de probabilidade de cura, mas tinha que lutar bastante por eles.
Fui uma doente de certa forma complicada, fazia reacções a tudo, estava sempre com febre, não comia (andava sempre com a parentérica), tinha desejos alucinantes com batatas cozidas, que acabava por não comer (com apenas 6 anos, tinha perdido 13kg), tive a sorte de ter comigo uma equipa magnífica que me faziam de tudo para me animar, pela minha vida passaram pessoas magníficas como a Dra. Lucília Norton, Dra. Laurentina, o meu grande Dr. Nuno Farinha (a quem tenho que agradecer mais que tudo, porque nos dias de hoje, mesmo passados 12 anos ele continua a preocupar-se comigo), Enfermeira Filipa, Enfermeira Joana, Enfermeira Luísa, Enfermeira Judite...
Passados 8 meses, 8 ciclos de quimioterapia, tudo tinha acabado... No dia 19 de Maio de 1999, eu tive alta, estava finalmente apta para vir para a minha tão desejada casa.
Evidentemente tinha que ir ao hospital todos os dias repor os valores de glóbulos vermelhos, plaquetas... para conseguir ter valores estáveis
Finalmente, em 2004 fui dada como curada, tudo já tinha passado, eu tinha sido a grande vitoriosa, eu venci.
Hoje em dia continuo a ir a consultas de rotina, mas talvez pior gosto, eu gosto mesmo daquele mundo, um dia gostaria de lá estar a lidar com crianças como eu (gostava de ser medica oncológica pediátrica, se conseguir...), o bichinho ficou cá dentro, quero fazer aos outros tudo o que me fizeram a mim.
Agradeço aos meus pais acima de tudo porque estiveram sempre lá, ao Dr. Nuno, e a todas as pessoas especiais que passaram pela minha vida.»

Vanessa Barbosa
Janeiro 2010, em testemunhos e opiniões, oncologiapediatrica.org

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